Com relação ao Bruno, lembro de chegar na maternidade Mãe Luzia com uma barriga pequenininha, cheia de dores, achando que voltaria pra casa logo porque ainda estava com 8 meses de gestação. Não voltei no mesmo dia porque ele nasceu prematuro, pequenininho, rosadinho, lourinho, lindo!!!
Mais um prematurinho na minha vida, este o último filho. O meu caçulinha, lourinho de olhos verdes.
Hoje meu filho é um homem e algumas vezes o vejo como aquele bebezinho rechonchudinho. Acho que isso também é coisa de mãe.
José Saramago definiu bem, "Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo ! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo".
Tai meu filho no mundo, com suas próprias experiências, lutando pelos seus espaços. Cheio de energia na construção do seu mundo. Mas às vezes, como todo filho, acho, volta pros meus braços sedento de aconchego.
Já Luiz Fernando Veríssimo é mais pragmático, diz "a verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final". Isto também é fato. O que também é fato é que uma boa arte-final depende de um bom layout.
Na verdade tudo o que eu gostaria de dizer ao meu filho Bruno, que faz aniversário hoje, ao meu filho Lênio, ao meu filho André e à minha filha Oriana, foi pensado e escrito por Lya Luft e publicado na Revista Veja de 12/05/12. Por isso republico aqui.
A canção de qualquer mãe
"Filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei
ou mereci ou imaginei ter"
ou mereci ou imaginei ter"
"Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a
de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima
das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós.
Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com
medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe,
minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada,
como desde o primeiro instante.
Que, quando se
lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o
trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande
crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias em que, até hoje arrependida,
dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta.
Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na
hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo
que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas
distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia,
o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de
aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação.
Que quando
precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para
prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer
baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma
queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo
mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com
suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da
hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência
faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde
for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver
vai enfeitar e tornar bom.
Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com
passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso
signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e
boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que
quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade
se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se
tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão
apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês
não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar:
provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua
atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se
culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto
ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me
confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste:
tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se
impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza,
e uma forma de crescimento.
Bruno meu filho, muitas e muitas felicidades. Hoje e sempre.
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