D. Chiquinha e seu filho, Pedro Bolão
Esmeraldina Santos, filha de D. Chiquinha | Nena Silva, neto de D. Chiquinha |
O Grupo Raízes do Bolão, liderado por Francisca Ramos dos Santos, a Dona Chiquinha do Bolão, divulga as tradições folclóricas do Amapá, principalmente o marabaixo e o batuque. É formado pelos descendentes de Maximino Machado dos Santos, o Bolão.
O Grupo desenvolve suas atividades no Curiaú, distrito de Macapá com uma área de 3.321,89 ha, distante 8 quilômetros da capital.
Dona Chiquinha é neta do Capitão Pedro Lazarino, pecuarista e político local do início do século XX, hoje nome de rua em Macapá. É detentora de uma memória fabulosa e conhece “ladrões” de Marabaixo como poucos. Sua mãe, conhecida por Benedita Chembemba também teve longa vida, passando dos cem anos.
Pedro Bolão, seu filho, exímio tocador de marabaixo e batuque, é lutier de caixas, querequexé e outros instrumentos. Também realiza oficinas de percussão em escolas públicas.
Nena Silva, neto de D. Chiquinha, é percussionista reconhecido nacionalmente.
Esmeraldina, sua filha é escritora. Publicou em 2002, com apoio cultural da Confraria Tucuju e Prefeitura Municipal de Macapá o livro “Histórias do Meu Povo”¸onde conta histórias de sua família e apresenta uma das muitas versões para o significado da palavra Curiaú.
Curiaú, onde tudo começou! Meu avô se chamava Januário Clarindo dos Santos, um dos filhos escravos. Você seria capaz de imaginar o que este homem fazia para sobreviver? Ah! Esta época foi de muita luta, a caça era um de seus pontos fortes, ao encontrar uma onça seus tiros eram certeiros e sempre no meio dos olhos.
Meu bisavô por parte de mãe, contava que ele era fazendeiro, tinha muito dinheiro, para ter nome ele comprou a “patente” passou a chamar-se capitão Pedro Lazarino. Minha avó materna foi de uma grande felicidade, pois, nasceu no ano da liberdade; ela sempre falava pra nós: - “Meus filhos, foi uma luta muito triste o que meus pais e meus avós passaram, tudo que possuíam tinha que enterrar: ouro, dinheiro, jóias. Tudo que era de valor. Negro tinha que ser pobre, negro era só sofrimento e dor.”
Mas, começou a ficar sereno quando eles começaram a fugir ao longo do rio abaixo ali estava o lugar onde tudo seria perfeito, onde tudo começava a brilhar, ouro ou prata ou até mesmo o serenar. Dois escravos procuravam um lugar para criar gado, este lugar que achavam bom para criar o “u”, que era o nome do boi que eles carregavam. Daí o nome Criaú. Enquanto alguns procuravam o lugar para ficar, outros viviam acorrentados, obrigados a trabalhar, carregando pedras a pé do rio Pedreira até Macapá para construir a Fortaleza. Os negros também fizeram história, porém foram enfraquecidos pelo tempo, continuavam vivos de nós.
E assim surgiu o Quilombo do Criaú, hoje denominado de Curiaú. As primeiras casas foram do velho Lino, Tia Alta, Clarindo, Chico do Rosário que era filho da Dimiciana. No Criaú, ao longo de uma estrada aparecia uma corrente de ouro que atravessava de um lado para outro. Começa assim a história deste povo que canta, chora, mas é feliz. No começo de sua existência sobreviviam da criação de gado, cavalo, cabra, porco, mas também tinham plantação de cana, laranja e banana, tinham também a casa de farinha onde sua plantação (imensa) “sumia no tempo”. Viviam também da pesca. (Histórias do Meu Povo. Esmeraldina dos Santos. Ed. Do Autor. Macapá.2002).
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