Gabriel Garcia Marques foi
habitar com as estrelas. Deixou uma vasta obra literária para que não nos
sentíssemos órfãos. “Cem anos de solidão”, O amor nos tempos do cólera”, O
general em seu labirinto”, “Crônica de
uma morte anunciada” e “Memórias de minhas putas tristes”, são alguns de
seus livros que enlevam e por vezes desnorteiam, mas que envolvem tanto que, ao
final, fica a certeza de que saímos fortalecidos e acrescentados de algo que absorvemos deste universo tão fantástico
e nem por isso, irreal.
Dos livros que li, o
meu favorito é, sem dúvida, “A incrível e triste história de Cândida Erêndira e
sua avó desalmada”. Absolutamente surreal. Belo, romântico e sarcástico.
A propósito do oitenta anos de
Gabriel Garcia Marques, Fernando Canto escreveu o texto abaixo, que vale a pena
reler.
(Sônia Canto)
80 ANOS DE
GABRIEL
Fernando Canto (Sociólogo)
O primeiro
grande clássico da literatura que li foi “Dom Quixote”, de Cervantes nas tardes
de folga da minha adolescência macapaense. Era um livro enorme de uma edição
ilustrada existente na Biblioteca Pública. Foi o meu primeiro contato com a
literatura espanhola e a primeira história que decididamente me fez sonhar,
viajar pelas estradas da imaginação.
Muitos anos
depois, em 1987, recebi de presente de minha mulher o monumental “Cem Anos de
Solidão”, de Gabriel García Márquez, autor de quem já havia lido apenas um
livro de conto do qual fiquei impressionado com “A Incrível e Triste História
de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada”, transformado depois em filme por Rui
Guerra, com bela atuação de Cláudia Ohana. Entusiasmado com o livro, não
cansei, até hoje, de divulgá-lo entre os amigos que gostam de literatura. E
assim devorei “Relato de um Náufrago”, “O Amor nos Tempos de Cólera”, “Doze
Contos Peregrinos” e mais recentemente “Memórias de Minhas Putas Tristes”,
entre outras ficções e memórias desse excepcional autor colombiano.
Nascido em
Aracataca, na Colômbia, no dia 6 de março de 1928, o escritor fará no ano que
vem 80 anos. Mas desde terça-feira passada iniciaram-se as comemorações sobre
sua vida e obra em quase todo o mundo. Márquez reside há mais de trinta anos na
Cidade do México que será sede de um novo empreendimento seu: a Casa Colômbia,
um centro cultural que se destina a divulgar as mais variadas manifestações
artísticas de seu país. Em 2007 haverá múltiplas comemorações na vida do
escritor, que por sinal odeia a televisão e espetáculos públicos: os 40 anos do
lançamento de “Cem Anos de Solidão” e os 25 anos do recebimento do Prêmio
Nobel. Esse livro já vendeu mais de 30 milhões de exemplares no mundo inteiro.
Dele será feita uma edição especial que será lançada em Cartagena das Índias
durante o Congresso Internacional de Língua Espanhola, organizado pela Real
Academia Espanhola, pelo Instituto Cervantes e pelo Governo da Colômbia. Terça-feira,
dia 6, na cidade natal do escritor, situada na costa do Mar do Caribe foram
disparados 80 tiros de canhão. Em Madri dezenas de intelectuais, artistas,
políticos e jornalistas realizaram uma maratona de leitura do seu mais famoso
romance, e o Ministro da Cultura de seu país anunciou que o governo pretende
restaurar a casa em que García Márquez
passou sua infância em Aracataca, que se situa numa região de cultivo de
bananas, onde o autor ouviu de sua avó as primeiras histórias que vieram a
influenciar e moldar seus futuros romances (fonte: Revista Entre Livros e Reuters/
Patrick Markey).
Foi através escritores
como Borges, Júlio Cortazar, Alejo Carpentier e Márquez que a minha geração
começou a ver nas metáforas absurdas (desculpem a tautologia) formas plurais de
se comunicar numa época de grande repressão da comunicação e das manifestações
artísticas no Brasil. Mexicanos e latino-americanos trouxeram para o terreno da
ficção elementos narrativos impressionantes, alicerçados numa temática
diversificada do tradicionalismo que permeava o regionalismo do início do
século XX. Eles acharam o filão de um universo ficcional inexplorado e
revelaram a América em seu insuportável contexto de miséria e autoritarismo.
Por darem em suas obras a conotação da denúncia através do fantástico todos
foram perseguidos pelas ditaduras de seus países e exilados. A produção desses
escritores foi denominada Realismo Mágico.
No Brasil
temos expoentes dessa literatura, cuja maior expressão está nos trabalhos de
José J. Veiga, Campos de Carvalho, Roberto Drummond e o impagável Murilo Rubião,
escritores que também deram muito trabalho para os censores da ditadura militar.
Então viva a literatura latino-americana! Viva Gabo! Cervantes vive!
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