| Arquivo pessoal. |
Como um rio que passa, eu passo por aqui.
(Fernando Canto e Bi Trindade, in Encantaria)
Hoje, 29/11/2024, atrevo-me a escrever sobre a transição de
meu amor, Fernando Canto, para o inimaginável.
Sim, inimaginável, pois ninguém tem certeza absoluta do que
ocorre na sequência do desvestir-se do corpo material, só posso discorrer sobre
o recorte de nossa trajetória, durante 37 anos, 10 meses, 10 dias e algumas
horas que estivemos juntos.
Desde o anúncio de sua partida, tenho me esmerado em cumprir
as partes burocráticas que o evento morte requer. Este episódio é impactante e
arrasador, assim. procurei desempenhar os rituais das exéquias com a certeza
inabalável de que meu coração estava à frente para fazer o que fosse
necessário, digno e compatível com a leveza, serenidade e simplicidade com que
o Fernando pautou toda a sua vida.
Ultrapassada esta fase, me recolho em mim para reencontrar
meus sentimentos.
Um misto de ternura, saudade, dor, perplexidade, carinho,
enlevo, tristeza e amor, muito amor perpassa em mim. Dias em que razão e emoção
se embricam para solidificar o viver.
Não desabo, só deságuo, às vezes, quando me dou conta de que
não tenho mais o OlhAR de Fernando. (grafia dele)
Ah, o olhar de Fernando dizia tanto... Vivo amortecida sem
seu olhar feliz, irônico, carinhoso, aborrecido, preocupado, debochado,
amoroso. Penso que Fernando diria: Não se preocupe o amor-tece-dor.
Assim estou neste momento, tecendo dores nas ondas do nosso
amor.
Aproveito para agradecer publicamente aos familiares e amigos
que trouxeram afagos, carinho, cuidado e respeito nestes dias tão dolorosos.
Sou só gratidão.
Encerro com este recorte do conto “Cornucópia de desejos”,
onde sinto um pouco o que Fernando via em mim:
“Descobri que sei de ti mais do sabes da pedra em teu caminho. Sou teu (adi)vinho incontestável, ad-mirador de tua trajetória. Por isso do alto da minha velada arrogância sei que tu também me amas. É por ti que generalizo a farsa da criação sem pesadelos cosmogônicos. Eu me agonizo em mistérios. Eu eternizo o meu olhar nessa paixão. E me enleio como as borboletas que viajam ao paraíso pelo buraco sem-fundo do fim da terra. Por isso eu sei que te amo.”
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