quarta-feira, 5 de novembro de 2025

29nov2025 30 dias sem Fernando.

 

Arquivo pessoal.

Como um rio que passa, eu passo por aqui.

(Fernando Canto e Bi Trindade, in Encantaria)

Hoje, 29/11/2024, atrevo-me a escrever sobre a transição de meu amor, Fernando Canto, para o inimaginável.

Sim, inimaginável, pois ninguém tem certeza absoluta do que ocorre na sequência do desvestir-se do corpo material, só posso discorrer sobre o recorte de nossa trajetória, durante 37 anos, 10 meses, 10 dias e algumas horas que estivemos juntos.

Desde o anúncio de sua partida, tenho me esmerado em cumprir as partes burocráticas que o evento morte requer. Este episódio é impactante e arrasador, assim. procurei desempenhar os rituais das exéquias com a certeza inabalável de que meu coração estava à frente para fazer o que fosse necessário, digno e compatível com a leveza, serenidade e simplicidade com que o Fernando pautou toda a sua vida.

Ultrapassada esta fase, me recolho em mim para reencontrar meus sentimentos.

Um misto de ternura, saudade, dor, perplexidade, carinho, enlevo, tristeza e amor, muito amor perpassa em mim. Dias em que razão e emoção se embricam para solidificar o viver.

Não desabo, só deságuo, às vezes, quando me dou conta de que não tenho mais o OlhAR de Fernando. (grafia dele)

Ah, o olhar de Fernando dizia tanto... Vivo amortecida sem seu olhar feliz, irônico, carinhoso, aborrecido, preocupado, debochado, amoroso. Penso que Fernando diria: Não se preocupe o amor-tece-dor.

Assim estou neste momento, tecendo dores nas ondas do nosso amor.

Aproveito para agradecer publicamente aos familiares e amigos que trouxeram afagos, carinho, cuidado e respeito nestes dias tão dolorosos.

Sou só gratidão.

Encerro com este recorte do conto “Cornucópia de desejos”, onde sinto um pouco o que Fernando via em mim:

“Descobri que sei de ti mais do sabes da pedra em teu caminho. Sou teu (adi)vinho incontestável, ad-mirador de tua trajetória. Por isso do alto da minha velada arrogância sei que tu também me amas. É por ti que generalizo a farsa da criação sem pesadelos cosmogônicos. Eu me agonizo em mistérios. Eu eternizo o meu olhar nessa paixão. E me enleio como as borboletas que viajam ao paraíso pelo buraco sem-fundo do fim da terra. Por isso eu sei que te amo.”

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