quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Jorge Herberth de berço

    Sereco 23

Bons tempos!!!

Sereco 3

Quem é a dama?

Sereco 4

Lourinho, parece um caruana!Sereco 19

Bons tempos do Grupo Pilão

ezequias_jorge_fernando

Ezequias Assis, Jorge Herberth e Fernando Canto. Professor Munhoz ao fundo.

Feliz aniversário, meu amigo. Te presenteio com momentos especiais.

Nota de agradecimento / Convite

ara_ JOSÉ ARAGUARINO DE MONT’ALVERNE (02.11.1920 – 23.01.2011)

Os familiares de JOSÉ ARAGUARINO DE MONT’ALVERNE, ainda imersos na profunda dor causada por seu falecimento ocorrido no dia 23 de janeiro, vêm de público agradecer a todas as pessoas que, indistintamente, os confortaram diante desta perda irreparável.

Informam ainda, que a missa de sétimo dia será celebrada na Catedral de São José, na Rua General Rondon no dia 29 de janeiro, às 19 horas.

Agradecem antecipadamente a todos os que comparecerem a este ato de fé cristã.

Maria Helena Mont’Alverne, filhos, netos, bisnetos, genros e noras.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

NÃO FAÇO MAIS NEGÓCIOS COM PEREMAS

joseli dias Joseli Dias

Tá decidido. Não faço mais negócios que envolvam peremas como forma de pagamento. Eu sei que os eco-chatos vão criticar meu paladar excêntrico, mas convenhamos: não dá para resistir a uma bela perema guisada, com pimenta de cheiro, arroz branco, farofinha e um açaí bem gelado. Na falta do açaí, costumo substituí-lo por uma dose de pinga para rebater o almoço.

Eu devo explicar que o fato de desistir das peremas nada tem a ver com consciência ecológica, porque essa degustação só é feita uma ou duas vezes no ano, quando viajo pelo interior, onde a quantidade de quelônios é farta e não há grandes alterações no meio ambiente. Na verdade, foi a cidade que me fez desistir. Se há um deus das peremas, talvez tenha o dedo dele nessa questão, porque, nas duas vezes em que eu pensei que as bichinhas iriam parar na minha panela, me enganei redondamente.

Na primeira vez estávamos eu e a professora Angela Nunes, minha esposa, a caminho do Curralinho, onde um amigo nosso tem um belo terreno de frente pro rio, farto em tucunarés. Eu gosto muito de pescar, então no domingo preparei o molinete, escolhi as iscas artificiais e seguimos pra lá. Íamos pela rodovia AP-10, quando logo depois de passar a lixeira pública, uma placa me chamou atenção:

BAR DA VIÚVA A 300 MTS.

Uma seta indicava que era só seguir um ramal que chegava lá.

Minha curiosidade falou mais alto e resolvemos conhecer rapidamente o local. Ao chegarmos lá, descobrimos que se tratava apenas de um barzinho muito mal ajambrado, com música brega e vários bêbados. Nem descemos do carro. Fazendo a curva de volta, fomos parados por um pinguço.

- Você vão pra lá? Me dão uma carona?

Eu disse que não, que não dava porque ia parar logo mais adiante, mas ele insistiu:

- Eu moro logo ali na frente. Se vocês me levarem, eu dou duas peremas que tenho guardadas lá em casa.

Falou em perema já viu, né?. Nem liguei pra minha mulher reclamando, mandei o cara entrar e levantei poeira na estrada. Quando chegamos na casa ele prontamente agradeceu e entrou rapidamente.

Eu fiquei lá, esperando ele voltar com as peremas e, como isso não aconteceu, businei pra ver se aparecia alguém. Apareceu. E era uma mulher zangada, maltratada pelo tempo, veio logo esculhambando.

- Vocês estavam com o sujeitinho, é?

Disse que não, que só tinha dado uma carona e esperava a perema de pagamento.

- Perema? Aqui não tem perema nenhuma. Ele sempre diz isso quando quer carona, disse a mulher, voltando a entrar na casa e batendo a porta, zangada.

O chato não foi ter perdido as duas peremas. O chato, mesmo, foi agüentar minha mulher rindo do caso enquanto, de cara fechada, pescava. Passei vários dias ouvindo ela contar para os parentes o acontecido.

Meses depois eu estava no pátio de casa, quando um senhor já de idade, que passava, parou ao perceber quatro pneus que estavam arrumados em um canto. Depois de me dar bom dia, ele foi logo perguntando se os pneus estavam ali para serem jogados no lixo:

- É que eu trabalho em uma fazenda no Aporema e queria dois pneus assim pra montar uma carroça e poder trabalhar sem muito esforço. Eu seria capaz de trazer umas cinco peremas pra quem me desse os pneus…

Aí deu na ferida, né? Eu fui logo lembrando que lá onde eu trabalhava haviam uns pneus sobrando e que o chefe já havia mandado jogar fora. Bastava ele passar lá no outro dia que estaria tudo na mão.

E o velhinho foi lá. Depois e examinar um a um, levou dois pneus meia-boca e disse que dali a quinze dias, quando retornasse da fazenda, traria as peremas. Só depois que ele foi embora, que eu lembrei que já havia sido enganado desse jeito. É lógico que o velinho não voltaria mais.

Eu estava enganado. Ele voltou. Foi numa segunda-feira, que minha secretária avisou que “o homem dos pneus” estava lá fora. Fui atender e ante que eu dissesse qualquer coisa, ele se adiantou:

- Meu querido amigo, trouxe suas peremas!!!

Imaginem o contentamento: cinco peremas para serem guisadinhas. Mas, cadê elas?

- É que eu deixei lá no Perpétuo Socorro, guardadas na casa de um amigo meu. O senhor me arranja 5 reais que eu vou lá buscar de moto-táxi rapidinho.

Dei 10 reais pra ida e volta. Aí sim, o cara desapareceu.

É pra não ter mais ódio no coração que eu não faço negócios envolvendo peremas.

A CHEGADA DO BANANA NO CÉU, João Lamarão

lamarão João Lamarão, engenheiro e escritor

Um mês já havia se passado daquela noite fatídica, tempo mais do que suficiente para que os trâmites burocráticos do Purgatório se processassem normalmente, contando é claro, com o jeitinho brasileiro, instrumento fundamental para que qualquer processo corra rapidamente em qualquer lugar e o Banana foi autorizado a ingressar no átrio que dá acesso a porta do Céu. O ambiente normalmente tranqüilo, nesta hora estava altamente congestionado. Filas intermináveis. Parecia mais com o pronto socorro durante os finais de semana do que a ante-sala do Paraíso.

Como era de se esperar, a situação mexeu com os brios do Banana que esbravejou aos quatro cantos que aquilo era uma esculhambação geral e que até ali, não havia respeito com as almas que aguardam a redenção eterna, por isso, iria se queixar diretamente a Ele. Deus, seu amigo intimo, que já o salvara de poucas e boas, de forma que a BACOL não deixaria aquilo barato.

Em um cantinho apertado, tipo 3x4, pois o preço do aluguel no Céu está pela hora da morte e onde foram implantadas as modernas instalações do Xodó Celestial, várias almas disputavam uma vaga no exíguo espaço a fim de conseguirem tomar uma cerveja geladinha enquanto aguardavam a vez de serem chamados pelo assessor especial de São Pedro, um negro alto e forte, ar de bonachão, que pela sua estatura sobressaia a turba, impondo respeito ao ambiente. Era nada mais, nada menos que o Pururuca.

Numa área reservada àqueles do regime semi-aberto que podem sair e entrar no Céu a qualquer hora, ao redor de uma mesa estrategicamente colocada, Paulão, Waldir Carrera, Marlindo Serrano e Bode, jogavam conversa fora. Faziam conjecturas de como estava a vida pelas bandas daqui de baixo, se haveria ou não carnaval, se a micareta na orla seria liberada, entre outras coisas.

Pela parte interna do balcão de mármore branco italiano, entre santinhos, velas e terços postos a venda, o Albino muito p... da vida meio a confusão peculiar, reconheceu nosso amigo ao longe, perdido meio a multidão e esbravejou:

- P.Q.P., taí o motivo da minha cuíra. Acabou o nosso sossego. Vejam quem acaba de chegar prá me aporrinhar.

Todos se viraram rapidamente na direção indicada. A alegria foi geral e imediatamente uma festa foi armada para receber o novo hóspede, gerando grande confusão, todos ávidos por notícias da terra, uma vez que por aquelas bandas não tem televisão e nem pega celular. Sabedores de que o Banana era onipresente, conseguia a proeza estar em vários lugares praticamente ao mesmo tempo, teria, portanto, muita informação a dar.

Passada a euforia inicial, as coisas foram acalmando, mas ao largo, um grupo de almas francesas xingava até em patuá, a falta de organização do ambiente, exigindo providencias urgentes. Ao fundo, uma voz em fluente francês tentava acalmar o agitado grupo dizendo:

– “Monsiers et mademoiselles, calma, calma... aqui as coisas são assim mesmo. Não se preocupem que vou ajeitar tudo pra vocês. Se há necessidade de dar um jeitinho, daremos; para isso, sou a alma certa, conheço todo mundo aqui no pedaço; tenho até autorização do Todo Poderoso para trabalhar como lobista e, mais rápido do que pensam, vocês estarão rezando um terço com Senhor. Mas antes, preciso de um adiantamentozinho prá molhar a mão do porteiro”.

Ouvindo isso e intrigado com a presença de tantos franceses, o Banana virou-se rapidamente e deu de cara com nada mais nada menos que o Franky de L’amour que tentava resolver a questão:

- Franky, que bagunça é essa, cara? Aqui não é o Céu, onde tudo é mil maravilhas?

- Não Banana! Aqui não é o Céu, aqui é Caiena.

- Valha-me Deus! Dancei.

O CONVENCIMENTO, Cesar Bernardo

150820091554 Parabéns a Cesar Bernardo, jornalista e escritor que aniverariou no dia 15/01

O homem passou ao largo do terreno desocupado que se situava muito bem em relação aos melhores endereços da cidade. As certezas que lhe ocorrem são a do abandono e a de que invadiria aquele pedaço de terra para proveito seu e da sua família numerosa.
Adiante desceu do ônibus, retornou uns duzentos metros e se deu a melhor examinar o objeto das suas recentes intenções, demorando-se uns dez ou quinze minutos nessa tarefa. Primeiro caminhou devagar na parte frontal do terreno que chegava até o meio fio lateral direito da estrada asfaltada, com o que, na verdade mediu-o contando as passadas regulares, cada uma contando cerca de noventa centímetros. Também avaliou o barulho dos carros passando a todo instante sempre em alta velocidade.

Atento para não perder a conta foi à linha de fundo do terreno marcando em voz alta as passadas, ao mesmo tempo em que memorizava os pontos e a posição da tubulação de água encanada que aflorava de quando em vez. Avaliava a distribuição da vizinhança da direita e avançava; chegando ao fundo deteve-se um pouco mais para medir com os olhos a imensidão da área, fez contas mentais e concluiu que toda extensão do terreno chegaria facilmente a dois hectares de terra nua.

A seguir tomou um punhado de terra em suas mãos, esboroou-a primeiro e depois deixou vazar por entre os dedos como se fosse uma criança brincando de fazer poeira ao vento. Outra vez se abaixou para tomar novo punhado em suas mãos, cuspiu-a seguidamente, amassou-a até torná-la uma bolinha de barro, que seguiu moldando e amassando entre os dedos. Daí, pôs-se a fazer mesuras com essa bolinha de barro amassado como se quisesse jogá-la ao ar com gestos ensaiados, exasperando-se à medida que não conseguia fazê-la despregar-se da palma da mão com safanões cadenciados.

Com a ajuda dos dedos desfez-se da bolinha de terra atirando-a a pequena distância. Depois a pisoteou até transformá-la numa lâmina que se colou à sola do calçado lhe colocando no rosto um sorriso largo. Caminhou devagar para fora da área e sem olhar para trás desapareceu entre os demais usuários da estrada.

O “teste” da poeira e depois o da bolinha de barro pegajoso tinha indicado terra muito boa para a agricultura, esse conhecimento ele trazia como cultura ancestral infalível. Era plantar e colher. Convencido dessa forma foi-se o tal homem.

Dias depois surgiu do nada uma invasão bem ali, como se fora uma variável cotidiana desse fenômeno da expansão urbana. A aparência de pobreza é a marca comum nas pessoas que formam esses pelotões de invasores urbanos, em contraste com o grau de organização e força institucional que as invasões urbanas apresentam.

Em cada uma delas existe comando, mas não se percebe a hierarquia entre os líderes, embora seja visível o apoio logístico e doutrinário recebido. Esses líderes animam a resistência, o apoio logístico garante-lhes a longevidade no posto, a doutrinação coloca trechos constitucionais lavrados da legislação específica na boca de cada um dos invasores. Daí em diante o ato de invadir terras urbanas passa a ser um movimento.

O tal homem era muito ágil e sábio, pois no dia seguinte já exibia a sua casa pronta e instalada ao fundo do terreno, com o quintal já pontilhado aqui e ali por coqueiros, bananeiras, laranjeiras e limoeiros, árvores de adorno, no geral todas já no porte de arvoretas de metro e meio. O sol ainda não estava alto e ele já lavrava a terra nas entrelinhas do plantio permanente, com o fito de ali espalhar alfaces, cebolinha, coentro, feijão de corda e batata- doce.

Aos outros seus companheiros coube tarefa quase igual, em lotes que eram menores que o seu, formando um conjunto de aspecto rural lembrando um milagre irrefutável porque ao final daquele mesmo período agrícola já sairia dali grande volume de frutas, legumes, verduras e ovos, frangos, patos e leitões. No dia anterior tudo lá era baldio, um retrato heriveltiano[1] do abandono programado e combinado com a especulação imobiliária urbano palaciana. Tão de repente quanto o surgimento dos invasores brotou a polícia, não se sabe de onde exatamente surgiu aquela centena de soldados estranhamente desarmados.

O comandante da soldadesca entrou sozinho na área, dirigiu-se ao líder dos invasores - o tal homem - e falaram-se por uns quatro ou cinco minutos. Não gesticularam forte e nem alteraram o tom da voz; olhavam especialmente atentos para um enorme caminhão que manobrava para posicionar-se estrategicamente num ponto ao fundo da área invadida, quase junto à parede da casa recém construída.

Estabelecido o entendimento entre ambos, o comandante pediu o megafone e ergueu o polegar da mão esquerda mostrando-o à tropa que imediatamente se movimentou cercando literalmente toda a área. O polegar erguido era um código: duas colunas se formaram de braços dados, dispondo fileiras de soldados frente a frente a pessoas no interior da invasão e populares que se aglomeravam ao derredor. Assim, bunda a bunda, costa a costa a soldadesca desarmada pôde ver a cara de espanto dos populares, quando gentilmente o próprio líder dos invasores empunhou o megafone e ordenou que todos os seus liderados se recolhessem ao interior dos seus barracos e permanecessem lá com os seus aparelhos de televisão ligados em qualquer canal.

Estrategicamente o comandante empurrou devagar o líder em direção ao seu próprio barraco para que também ele cumprisse a ordem. Estudadamente fingiu esquecer de resgatar o megafone de suas mãos, dirigindo-se a passos ensaiados da cadência militar ao caminhão tipo baú, pintado nas cores da corporação e estrategicamente ocupado por policiais militares devidamente identificados pelo fardamento que usavam.

Acionados por comandos eletrônicos autorizados e ordenados pelo comandante da operação, foram surgindo no teto e nas laterais do veículo instrumentos especiais de uso em filmagens e transmissões televisivas. Em segundos, em todas as telas dos aparelhos de televisão dos invasores e da vizinhança num raio de até quinhentos metros, estavam as imagens mostrando o massacre de agricultores sem-terra ocorrido recentemente no Norte do país. Detalhes do massacre iam passando lentamente: ora com um policial militar atirando friamente contra os lavradores, ora com lavradores caindo mortos ao chão, ora mães, esposas e filhos chorando desesperadamente sobre corpos caídos debaixo de insistente tiroteio sobrecabeça. Depois de exatos trinta minutos de exibição as imagens desapareceram das telas, o caminhão recolheu os seus tentáculos eletrônicos, o cerco policial se desfez e o silêncio ficou na área da invasão até a noite.

No dia seguinte, quando a cidade reacordou para a rotina urbana, na mesma área nada e nem ninguém se viu. Tudo era exatamente igual ao que foi há três dias antes: o que se via eram buracos, como covas, que receberam os pés direitos dos barracos e as culturas “permanentes”, com as quais aqueles homens e mulheres toscos pretenderam oferecer benfeitorias à nova “propriedade”. Além dos buracos (como covas no chão), abertos à espera de cadáveres, também ficou alhures num ponto qualquer da área o megafone do comandante.

Que destino tomou o tal homem, os seus companheiros e o comandante policial nunca foi possível precisar. O certo é que no endereço daquela invasão moram hoje políticos importantes, pastores evangélicos, oficiais militares e muitos, muitos homens de negócios bem sucedidos.

Lá ninguém sabe dessa história de invasão e desocupação, literalmente ninguém. Por isso lhe contei este conto.

ARTE POÉTICA, Juraci Siqueira

juraci siqueira

Antonio Juraci Siqueira nasceu em 28 de Outubro de 1948 em Cajary, município de Afuá no Pará, onde, ainda menino, descobriu a literatura através dos folhetos de cordel. Aos 16 anos mudou-se para Macapá (AP) onde se casou, prestou serviço militar e concluiu os estudos de segundo grau.

Em 1976 mudou-se para Belém graduando-se em Filosofia em 1983 pela UFPa. Pertence a várias entidades lítero-culturais, entre estas a União Brasileira de Trovadores, a Malta de Poetas Folhas & Ervas, a Academia Brasileira de Trova e o Centro Paraense de Estudos do Folclore.

Atua como oficineiro, performista, contador de histórias e publicou mais de 60 títulos individuais entre folhetos de cordel, livros de poesias, contos, crônicas, histórias humorísticas e versos picantes.

Colabora com jornais, revistas e boletins culturais de Belém e de outras localidades e conta com mais de 200 premiações em concursos literários em vários gêneros, em âmbito nacional e local

.

ARTE POÉTICA

Hoje,

amanheci meio peixe,

meio pássaro.

Estou aprendendo a nadar,

tomando aulas de vôo

e aprimorando o canto.

Amanhã,

pássaro pleno,

insofismável peixe,

debulharei meu canto sobre a terra

em nados abissais

e vôos rasantes.

 
 

VERDE CANTO

Verde é o meu canto

vivo muiraquitã de amor talhado

na pedra da existência e pendurado

no invisível pescoço do amanhã

VERDE É O MEU PRANTO

musgo a crescer nas fendas seculares

abertas pelas mãos da malquerença

na história carcomida deste chão.

 
 

VERDE É O VENENO

que escondo na palavra – jararaca

urtivamente oculta entre a folhagem

no emaranhado chavascal de mim

.

AS ILHAS ENCANTADAS DO MARAJÓ, Walcyr Monteiro

Walcyr Monteiro27011940a

Walcyr Monteiro é jornalista profissional, trabalhou e colaborou em diversos jornais e revistas. Atuou como professor de ensino médio e superior nas disciplinas Antropologia Cultural, Economia Brasileira e Ciência Política na área da educação.

Seu livro Visagens e Assombrações de Belém já foi utilizado como base para produção do roteiro do longa-metragem Lendas Amazônicas (1998), e o curta-metragem Visagem (2006).

O informante de "O estranho cliente do Dr. X" fez mais duas narrativas que, segundo ele, tem ligação direta com o local onde possivelmente foi o médico.

Disse que há cerca de 10 anos, mais ou menos, a convite de um amigo, realizou uma viagem ao Marajó. Saíram de Belém em canoa movida a vela até alcançarem a parte Oriental ilha. Aí, saltaram próximo a foz do rio Camará, no atual município de Salvaterra.

"- A paisagem local impressionou-me deveras. As poucas vezes que sai de Belém ou foi para o Mosqueiro ou para Salinas, de modo que tudo para mim, ali, era novidade. Já lera coisa em livros de geografia, bem como ouvira o professor em sala de aula a respeito de mangues ou mangais. Mas, uma coisa é ler ou ouvir e outra é ver. As descrições orais ou escritas não pintavam nem de longe o que estava vendo: próximo a praia, estendendo-se por muitas centenas de metros, lá estavam os famosos mangais. Não nego que a primeira vista fiquei assustado. Cerca de 18 horas e começava a escurecer o que dava um ar tristonho ao local. Se o crepúsculo em si tem grande dosagem de nostalgia, naquele trecho do Marajó garanto que tem muito mais. Porém, como dizia, o mangal se estendia por centenas de metros. Era uma área lamacenta, e as árvores apresentavam-se desfolhadas e com as raízes a mostra. Seus galhos pareciam imensos braços a querer agarrar os que lhe passassem nas proximidades. O quadro parecia até um desses desenhos de revistas de terror. Embora assustado, como estivesse entusiasmado com meu primeiro passeio ao interior paraense, caminhei a frente, por onde me indicaram o rumo que deveríamos seguir. Foi quando ouvi um ruído estranho, como nunca tinha ouvido na vida. Uma espécie de "paissssssssssss...", porém alto, apavorante. Parei. O ruído parou, também. Voltei a caminhar e novamente o "psisssssssssssss...!" Tornei a parar e esperei pelos meus companheiros, dois amigos de Belém e três caboclos do local. Os amigos já conheciam o Marajó e vinham rindo de mim. Fiquei mais calmo, pois verifiquei que não devia ser nada a temer. O problema é que, por mais que olhasse, não via nada. No entanto, se dava uns passos a frente, o ruído recomeçava. Então eles me mostraram o que era: caracas, aos milhões, seguras às raízes das árvores. Aproximei-me e verifiquei que a caraca era uma espécie de molusco parasita, com a forma de um pequeno vulcão, cuja cratera ficava aberta e, a aproximação de qualquer coisa, fechava, dando um pequeno estalido. Era este estalido, porém de muitos milhões delas, que gerava o ruído.

Apesar disto, tranquilizei-me somente quando deixamos as cercanias do mangal. Depois de atravessarmos o rio, fomos dormir em uma choupana de um dos três caboclos, na margem direita do rio, próximo à foz. Eles lá chamavam o lugar de São Tomé. Tive uma noite inquieta, sonhando inclusive com seres estranhos, vestidos de maneira esquisita. Acreditei que isto tudo era influência do aspecto do lugar.

No dia seguinte, tomamos uma montaria e fomos dar uma volta ao largo. Quase defronte a foz do rio, pela margem direita, existem duas ilhas, uma menor que a outra. A maior denomina-se C'roa Grande (Coroa Grande) e a menor C'roinha (Coroinha). O porquê de tais denominações, desconheço. Procurei informar-me, mas não souberam explicar-me. Manifestei desejo de conhecê-las. Os caboclos responderam negativamente. Insisti. Eles afirmaram:

- Olhe, moço, o senhor é da cidade e não acredita nestas coisas. Mas a verdade é que estas ilhas são encantadas.

Ri comigo mesmo! E pensei: mais um mito desta mitológica Amazônia. Procurei extrair mais de acompanhantes, enquanto observava as ilhas. Vegetação exuberante, como no resto da região, belas, apresentavam única diferença: nenhuma habitação nas duas. Aliás, nada que indicasse já haver sido pisada pelo homem.

Um dos caboclos resolveu historiar.

- Desde o tempo de meu avô, e acho que antes dele, já se dizia que a C'roa Grande e a C'roinha são encantadas. Disque quem pisa lá não volta para contar o que viu e o que não viu. Eu até que pensei que isto era besteira, mas, há 4 anos, dois caboclos resolveram ir lá. Eram o Mundico e o João. Eram corajosos e bons caçadores. Armaram-se, tomaram a montaria e foram para a C'roa Grande. E nunca mais voltaram! Ninguém sabe o que foi feito deles.

- Ora, argumentei, naturalmente a montaria naufragou e eles morreram afogados! - Não, senhor. Eles desapareceram foi na ilha. A montaria, dias depois, veio trazida pela correnteza. E não veio "emborcada", não! É, moço, as ilhas são encantadas.

- Mas, que espécie de encantamento é este?

- Não sei não! Disque é gente do fundo. Às vezes se ouve barulho, de noite, vindo das ilhas. Parece até que dão festas lá.

Fiz tudo para ir a C'roa Grande, meus acompanhantes mantiveram-se irredutíveis: eles não iam lá de jeito nenhum. E que era bom que não insistisse muito, pois, só pelo fato de estar demonstrando tal desejo, poderia ser " encantado" pelos habitantes do fundo.

Já estávamos voltando para o nosso ponto de partida, e a montaria deslizava nas águas barrentas.

No dia seguinte, tínhamos de partir em direção a Joanes, Beirada, Condeixa, Jubim, seguindo até Salvaterra. Fiquei ansioso por ir as ilhas. Fiz o possível para voltar à tarde, mas os demais habitantes do lugar, todos, sem exceção, recusaram-se a ir a C'roa Grande e a C'roinha. E contaram vários casos semelhantes ao de Mundico e ao de João, através dos anos. Vez em quando, surgia um que duvidava, ia investigar e desaparecia. Os seus contemporâneos não mais queriam saber de ir lá. Mas, depois de um certo tempo, surgiam outros e acontecia a mesma coisa. Raimundo e João tinham sido os últimos. Outra coisa que costumava ocorrer: se a pessoa se aproximava muito do local, era acometida de alta febre, durante a qual delirava e falava de estranhos personagens, após o que morria, Deixei o lugar curioso e fazendo mil e uma conjecturas sobre o que poderia estar acontecendo ali. Várias hipóteses formulei, inclusive pensando em termos de ignorância dos habitantes e do próprio aspecto do lugar, daí nascerem tais crendices. Afinal, eu mesmo não havia me assustado no mangal? Era natural, portanto, lendas desta natureza. Sempre foi assim: quando o homem não consegue explicar certos fenômenos da natureza, apela para o sobrenatural. E disto a Amazônia está cheia!"

+ + +

- Mas, e a relação deste caso com o do "Estranho cliente do Dr. X"?

- Ah! Isto foi algum tempo depois. Porém foi uma outra história, que me fez relacionar os três fatos!

Walcyr Monteiro e Juracy Siqueira visitam Macapá

Estiveram em Macapá os escritores paraenses Walcyr Monteiro e Juracy Siqueira.

walcyr_decleoma_fernando_juraci Walcyr Monteiro, Decleoma Lobato, Fernando Canto e Juraci Siqueira.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

ANA MARTEL E SERGIO SALES

ANA MARTEL Sérgio Sales e Ana Martel estarão amanhã, 13 de janeiro, no SESC CENTRO.

O show faz parte do projeto Jornada Cultural

Ana Martel irá mostrar o repertório do seu CD SOU ANA e  outras canções da música brasileira que fazem parte do seu repertório atual.

A banda é formada por músicos especialmente para o jornada cultural e tem Miqueias como diretor musical .

O show inicia às 21:00 e a entrada é franca.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tragédia do Novo Amapá motiva visita de Randolfe Rodrigues à Capitania dos Portos

Márcia Corrêa
Jornalista

ACIDENTE NO NOVO AMAPÁ_1 O Senador Randolfe Rodrigues (PSOL) fará, nesta quinta-feira (06), uma visita à Capitania dos Portos do Amapá, localizada no município de Santana. No dia em que o naufrágio do barco Novo Amapá completa 30 anos, o Senador quer homenagear as vítimas da tragédia comprometendo seu mandato com a segurança da navegação nos rios da Amazônia. "O 06 de janeiro é uma data triste para o Amapá, mas que nos alerta. Vou conhecer o aparato utilizado pela Capitania dos Portos, levantar suas necessidades e disponibilidade orçamentária. Levarei esse debate para o Senado", explicou Randolfe.
Nos primeiros meses em Brasíla, como Senador, Randolfe vai agendar audiência com o Comando da Marinha, no Ministério da Defesa, para se colocar à disposição e juntar esforços em prol da fiscalização, destinação de recursos e estruturação da navegação na região. "A tragédia do Novo Amapá não é uma página virada, é uma ameaça latente. A navegação na Amazônia nos faz lembrar da recomendação bíblica 'orai e vigiai' sempre", justificou ele. A visita à Capitania dos Portos acontecerá às 15 horas.
Novo Amapá
Na noite de 06 de janeiro de 1981, o barco Novo Amapá naufragou na foz do rio Cajari, próximo a Monte Dourado no Pará, com 696 pessoas a bordo. Perderam a vida 378 pessoas em um acidente que se tornou símbolo da completa insegurança da navegação na Amazônia. A embarcação tinha registrados oficialmente 150 passageiros, mas o número verdadeiro era o prenúncio do desastre. 
A morte do proprietário da embarcação, Alexandre Góes da Silva, naquela noite, denunciava ainda uma cultura de descuido com a vida e com as condições exigidas para navegação segura, por parte das tripulações e da própria população ribeirinha. De lá para cá a realidade mostra que essa situação persiste.

Foto do arquivo pessoal do escritor Paulo Tarso

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Leitura dramática da peça “A mulher do fundo do rio”, de Fernando Canto

leitura1 A primeira leitura dramática da peça “A mulher do fundo do rio”, do escritor Fernando Canto vai ser apresentada no dia 06/01 (quinta-feira), no Ponto de Cultura Estaleiro, do Grupo Teatral Marco Zero.

Com direção de Thomé Azevedo, o elenco foi selecionado exclusivamente para a peça.

A peça aborda de forma poética e dramática situações que ocorrem no interior de uma embarcação que enfrenta um naufrágio e pretende levar o público à reflexão sobre as grandes tragédias que ocorrem nos rios da Amazônia e no mundo.

Para a criação da peça, o autor tomou como exemplo a maior tragédia fluvial ocorrida no Amapá, o naufrágio do barco Novo Amapá que vitimou mais de 600 pessoas no dia 06/01/81.

A ideia do grupo é promover a leitura da peça em um circuito que percorrerá as universidades e as escolas públicas para que a encenação ocorra em janeiro de 2012. Pretende também, estimular a leitura dramática de autores, tanto amapaenses, quanto consagrados nacional e mundialmente.

Serviço:

Local: Ponto de Cultura Estaleiro - Av. Rio Negro, 71 – Bairro Perpétuo Socorro

Data: 06/01/11 Hora: 20:00h

Entrada franca

Elenco:

Kelly Maia / Ana Vidigal / Janice Carvalho / Jaqueline Rodrigues / Dércio Damasceno

As crianças Dughan, Marcela, Diego, Bárbara e Kesia

Sonoplastia: Erivaldo Santos

Direção: Thomé Azevedo

Produção Executiva: Sonia Canto Produções