quarta-feira, 30 de abril de 2014

Dádiva.

Alba Cavalcante da Silva, minha mãe.
Hoje minha mãe completa 91 anos de idade e não pude abraçá-la, nem pedir sua bênção. Dói. A despeito de tudo e de todos, hoje, especialmente, meu coração se enche de ternura e carinho por essa mulher que enfrentou grandes batalhas para criar e manter 12 filhos.
As atitudes que cada um desses filhos assume durante sua caminhada diz respeito a cada um e não invalida o amor e o respeito que transborda do meu coração.
Hoje agradeço pela dádiva da vida, a vida que minha mãe me proporcionou e que me permitiu parir meus quatro filhos que significam a plenitude de minha existência.
Agradeço pela bondade divina que permite que, aos 91 anos minha mãe esteja lúcida e escolha exatamente quem ela quer que fique ao seu lado. É o exercício pleno de sua vontade e isto, também, é uma dádiva.

Hoje, daqui do meu cantinho rogo a Deus e Nossa Senhora, que cubram minha mãe de luzes para que sua caminhada pela vida seja coroada de êxito.

sexta-feira, 18 de abril de 2014


Gabriel Garcia Marques foi habitar com as estrelas. Deixou uma vasta obra literária para que não nos sentíssemos órfãos. “Cem anos de solidão”, O amor nos tempos do cólera”, O general em seu labirinto”,  “Crônica de uma morte anunciada” e “Memórias de minhas putas tristes”, são alguns de seus livros que enlevam e por vezes desnorteiam, mas que envolvem tanto que, ao final, fica a certeza de que saímos fortalecidos e acrescentados de algo que absorvemos deste universo tão fantástico e nem por isso, irreal.
Dos livros que li, o meu favorito é, sem dúvida, “A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada”. Absolutamente surreal. Belo, romântico e sarcástico.  










A propósito do oitenta anos de Gabriel Garcia Marques, Fernando Canto escreveu o texto abaixo, que vale a pena reler.
(Sônia Canto)

80 ANOS DE GABRIEL
Fernando Canto (Sociólogo)

O primeiro grande clássico da literatura que li foi “Dom Quixote”, de Cervantes nas tardes de folga da minha adolescência macapaense. Era um livro enorme de uma edição ilustrada existente na Biblioteca Pública. Foi o meu primeiro contato com a literatura espanhola e a primeira história que decididamente me fez sonhar, viajar pelas estradas da imaginação.

Muitos anos depois, em 1987, recebi de presente de minha mulher o monumental “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez, autor de quem já havia lido apenas um livro de conto do qual fiquei impressionado com “A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada”, transformado depois em filme por Rui Guerra, com bela atuação de Cláudia Ohana. Entusiasmado com o livro, não cansei, até hoje, de divulgá-lo entre os amigos que gostam de literatura. E assim devorei “Relato de um Náufrago”, “O Amor nos Tempos de Cólera”, “Doze Contos Peregrinos” e mais recentemente “Memórias de Minhas Putas Tristes”, entre outras ficções e memórias desse excepcional autor colombiano.

Nascido em Aracataca, na Colômbia, no dia 6 de março de 1928, o escritor fará no ano que vem 80 anos. Mas desde terça-feira passada iniciaram-se as comemorações sobre sua vida e obra em quase todo o mundo. Márquez reside há mais de trinta anos na Cidade do México que será sede de um novo empreendimento seu: a Casa Colômbia, um centro cultural que se destina a divulgar as mais variadas manifestações artísticas de seu país. Em 2007 haverá múltiplas comemorações na vida do escritor, que por sinal odeia a televisão e espetáculos públicos: os 40 anos do lançamento de “Cem Anos de Solidão” e os 25 anos do recebimento do Prêmio Nobel. Esse livro já vendeu mais de 30 milhões de exemplares no mundo inteiro. Dele será feita uma edição especial que será lançada em Cartagena das Índias durante o Congresso Internacional de Língua Espanhola, organizado pela Real Academia Espanhola, pelo Instituto Cervantes e pelo Governo da Colômbia. Terça-feira, dia 6, na cidade natal do escritor, situada na costa do Mar do Caribe foram disparados 80 tiros de canhão. Em Madri dezenas de intelectuais, artistas, políticos e jornalistas realizaram uma maratona de leitura do seu mais famoso romance, e o Ministro da Cultura de seu país anunciou que o governo pretende restaurar a casa em que García Márquez passou sua infância em Aracataca, que se situa numa região de cultivo de bananas, onde o autor ouviu de sua avó as primeiras histórias que vieram a influenciar e moldar seus futuros romances (fonte: Revista Entre Livros e Reuters/ Patrick Markey).

Foi através escritores como Borges, Júlio Cortazar, Alejo Carpentier e Márquez que a minha geração começou a ver nas metáforas absurdas (desculpem a tautologia) formas plurais de se comunicar numa época de grande repressão da comunicação e das manifestações artísticas no Brasil. Mexicanos e latino-americanos trouxeram para o terreno da ficção elementos narrativos impressionantes, alicerçados numa temática diversificada do tradicionalismo que permeava o regionalismo do início do século XX. Eles acharam o filão de um universo ficcional inexplorado e revelaram a América em seu insuportável contexto de miséria e autoritarismo. Por darem em suas obras a conotação da denúncia através do fantástico todos foram perseguidos pelas ditaduras de seus países e exilados. A produção desses escritores foi denominada Realismo Mágico.

No Brasil temos expoentes dessa literatura, cuja maior expressão está nos trabalhos de José J. Veiga, Campos de Carvalho, Roberto Drummond e o impagável Murilo Rubião, escritores que também deram muito trabalho para os censores da ditadura militar. Então viva a literatura latino-americana! Viva Gabo! Cervantes vive!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Aprender Direito - Tradição.

O que é tradição?

Eu, que pensava que o conhecimento era cumulativo, percebo que estudar Direito é mergulhar num mundo à parte. Conceitos que até então julgava serem tácitos, não são... Por exemplo, cada vez que a palavra “tradição” aparecia em algum escrito, imediatamente o que me vinha à cabeça era algo relacionado com fazer algo da mesma maneira até que se tornasse tácito. Este conceito não está errado, pois, em grego, tradição significa, "na acepção religiosa do termo, a expressão é paradosis παραδοσις) é a transmissão de práticas ou de valores espirituais de geração em geração, o conjunto de crenças de um povo, algo que é seguido conservadoramente e com respeito através de gerações".  

Hoje percebo que para estudar Direito, direito, (veja, duas acepções da palavra completamente diversa), preciso mergulhar no estudo da origem das palavras, lembrar-me do inesquecível professor Benevides e estudar latim.
A palavra “tradição” (em latim, traditio, tradere) significa entregar. Então é isso: “tradição”, em Direito, significa entregar a coisa.

No Direito Civil, o termo "Tradição" remete à entrega, ou seja, na relação de compra e venda, por exemplo, o comprador (devedor de pagamento em espécie) ao efetuar o pagamento passa a ser credor do vendedor do produto/mercadoria/serviço pelo qual pagou, então ocorre a tradição – entrega do produto pelo qual foi negociado mediante valor previamente fixado.


terça-feira, 8 de abril de 2014

SOberba ORAção dos SERes da FLOResta parA IANEJAR, o heRÓI

Texto de Fernando Canto*

Eu te agradeço Ianejar pelo teu sangue de borboleta avoante. Por seres  a distorção da história fútil do homem branco que aqui chegou fincando sobre a terra seus valores.
Ianejar, eu te agradeço pelo fogo - o cataclismo devastador - mais que necessário para proteger teu povo do intrépido inimigo e de suas armas cuspidoras do brilho do infortúnio.
Todos os dias quando o sol se agiganta como um raivoso pai lá no horizonte, eu penso que tu estavas certo em provocar a fuga-exílio do teu povo sofredor por dentro de uma casa-argila, onde tantos faleceram de calor e de frio.
E era Mairi que flutuava pelas margens do Grande Paraná à deriva e à procura de uma terra em que houvesse paz.
Eu te agradeço, Ianejar, por conduzires com grandeza a dignidade do povo Waiãmpi na sua memória ímpar, por enormes espirais que o nosso povo representa em ciclos míticos.
Sei que foi preciso destruir uma parte da Floresta-Mãe para depois fazer a roça e ver medrar a folha verde dos campos.
E mesmo antropizada como hoje diz o karaiko /o homem branco/ a floresta é a tua dádiva. É a cornucópia do nosso cabeludo povo, dada a nós por um demônio manso que hoje deita na tua rede no teu céu, lá onde estão as borboletas e a estrela em que tu te tornaste quando saíste pelo buraco do final da Terra.

Eu te agradeço, Ianejar, eu te agradeço.

Publicado no livro Equinocio - Textuário do Meio do Munto. Ed. Paka-tatu. Belém-PA, 2004;