sexta-feira, 18 de abril de 2014


Gabriel Garcia Marques foi habitar com as estrelas. Deixou uma vasta obra literária para que não nos sentíssemos órfãos. “Cem anos de solidão”, O amor nos tempos do cólera”, O general em seu labirinto”,  “Crônica de uma morte anunciada” e “Memórias de minhas putas tristes”, são alguns de seus livros que enlevam e por vezes desnorteiam, mas que envolvem tanto que, ao final, fica a certeza de que saímos fortalecidos e acrescentados de algo que absorvemos deste universo tão fantástico e nem por isso, irreal.
Dos livros que li, o meu favorito é, sem dúvida, “A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada”. Absolutamente surreal. Belo, romântico e sarcástico.  










A propósito do oitenta anos de Gabriel Garcia Marques, Fernando Canto escreveu o texto abaixo, que vale a pena reler.
(Sônia Canto)

80 ANOS DE GABRIEL
Fernando Canto (Sociólogo)

O primeiro grande clássico da literatura que li foi “Dom Quixote”, de Cervantes nas tardes de folga da minha adolescência macapaense. Era um livro enorme de uma edição ilustrada existente na Biblioteca Pública. Foi o meu primeiro contato com a literatura espanhola e a primeira história que decididamente me fez sonhar, viajar pelas estradas da imaginação.

Muitos anos depois, em 1987, recebi de presente de minha mulher o monumental “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez, autor de quem já havia lido apenas um livro de conto do qual fiquei impressionado com “A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada”, transformado depois em filme por Rui Guerra, com bela atuação de Cláudia Ohana. Entusiasmado com o livro, não cansei, até hoje, de divulgá-lo entre os amigos que gostam de literatura. E assim devorei “Relato de um Náufrago”, “O Amor nos Tempos de Cólera”, “Doze Contos Peregrinos” e mais recentemente “Memórias de Minhas Putas Tristes”, entre outras ficções e memórias desse excepcional autor colombiano.

Nascido em Aracataca, na Colômbia, no dia 6 de março de 1928, o escritor fará no ano que vem 80 anos. Mas desde terça-feira passada iniciaram-se as comemorações sobre sua vida e obra em quase todo o mundo. Márquez reside há mais de trinta anos na Cidade do México que será sede de um novo empreendimento seu: a Casa Colômbia, um centro cultural que se destina a divulgar as mais variadas manifestações artísticas de seu país. Em 2007 haverá múltiplas comemorações na vida do escritor, que por sinal odeia a televisão e espetáculos públicos: os 40 anos do lançamento de “Cem Anos de Solidão” e os 25 anos do recebimento do Prêmio Nobel. Esse livro já vendeu mais de 30 milhões de exemplares no mundo inteiro. Dele será feita uma edição especial que será lançada em Cartagena das Índias durante o Congresso Internacional de Língua Espanhola, organizado pela Real Academia Espanhola, pelo Instituto Cervantes e pelo Governo da Colômbia. Terça-feira, dia 6, na cidade natal do escritor, situada na costa do Mar do Caribe foram disparados 80 tiros de canhão. Em Madri dezenas de intelectuais, artistas, políticos e jornalistas realizaram uma maratona de leitura do seu mais famoso romance, e o Ministro da Cultura de seu país anunciou que o governo pretende restaurar a casa em que García Márquez passou sua infância em Aracataca, que se situa numa região de cultivo de bananas, onde o autor ouviu de sua avó as primeiras histórias que vieram a influenciar e moldar seus futuros romances (fonte: Revista Entre Livros e Reuters/ Patrick Markey).

Foi através escritores como Borges, Júlio Cortazar, Alejo Carpentier e Márquez que a minha geração começou a ver nas metáforas absurdas (desculpem a tautologia) formas plurais de se comunicar numa época de grande repressão da comunicação e das manifestações artísticas no Brasil. Mexicanos e latino-americanos trouxeram para o terreno da ficção elementos narrativos impressionantes, alicerçados numa temática diversificada do tradicionalismo que permeava o regionalismo do início do século XX. Eles acharam o filão de um universo ficcional inexplorado e revelaram a América em seu insuportável contexto de miséria e autoritarismo. Por darem em suas obras a conotação da denúncia através do fantástico todos foram perseguidos pelas ditaduras de seus países e exilados. A produção desses escritores foi denominada Realismo Mágico.

No Brasil temos expoentes dessa literatura, cuja maior expressão está nos trabalhos de José J. Veiga, Campos de Carvalho, Roberto Drummond e o impagável Murilo Rubião, escritores que também deram muito trabalho para os censores da ditadura militar. Então viva a literatura latino-americana! Viva Gabo! Cervantes vive!

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