terça-feira, 2 de setembro de 2014

Direito e(m) Nárnia: sair do armário é preciso

Por Ana Cláudia Bastos de Pinho e Fernando da Silva Albuquerque
A aula era sobre princípio da insignificância. O professor, para explicá-lo, sem deixar dúvidas – até porque suscitar perguntas parece um incômodo – utilizava o exemplo de um furto de um copo d’água. Como se o maior problema de política criminal do país fosse dar destino aos ladrões de copos d’água (aliás, em tempos de racionamento, talvez a tese da insignificância sequer fosse acatada).
Ali também, na academia, discutia-se, durante horas, um modelo de solução judicial de conflitos baseado na igualdade, como se as pessoas que chegassem ao Judiciário, experimentassem relações sociais nas mesmas condições de acesso e oportunidades.
Da mesma forma, os manuais de direito encontram-se recheados de exemplos de “outro mundo” (se é que podem ser assim chamados, já que “mundo” é palavra que pressupõe realidade compartilhada: mundo é, afinal, o que “munda”). Lenio Streck já denunciou várias dessas aberrações do ensino e das práticas jurídicas: gêmeos xifópagos, homem-lagarto, assassinos que confundem anões com crianças, sujeito que se veste de cervo e vai para a floresta e tantos outros exemplos absurdos (o direito penal é repleto deles).
Esse afastamento da realidade não se dá impunemente, por óbvio. Pagamos uma alta conta por esse alheamento. A criminologia crítica nos alerta do quanto somos capazes de ignorar dados da realidade e fabricar outros, que nos convem. O discurso do punitivismo, por exemplo, esbraveja pela redução da maioridade penal, sem dispor de informação precisa acerca da efetiva participação de adolescentes em crimes violentos (será que o número efetivamente justificaria a medida?).
Acompanhando as advertências de Streck e as lições de Dworkin, é preciso deixar claro que temos graves problemas com os “princípios”. Outra séria tendência de mandar a realidade para bem longe… Princípios não são construções, não são modelos expostos numa vitrine para que o comprador escolha o que melhor lhe convier. Princípios são a introdução do Direito na vida prática. É a realidade interpenetrando o Direito, exatamente como delineado em “O Império do Direito”. Dworkin em nenhum momento, conceitua, classifica, nomeia um princípio. Mas nos faz chegar à perfeita compreensão do que ele vem a ser por meio de argumentações exaustivamente exemplificativas.
Não preciso de um conceito do que seja moralidade política, tampouco integridade, mas as entendo perfeitamente quando leio o caso Brown x Board of education, ou quando Dworkin conta a história do beneficiário do testamento que mata o avô para ficar com a herança (caso Elmer).
Do lado debaixo do Equador, infelizmente, as coisas não se dão bem assim. Aqui, adoramos inventar, criar. Na terra das bananas, damos banana à tradição construída, compartida. Ignoramos a teoria. Dizemos que é aquilo que não é, e vice versa. Adoramos a frase “mas isso é seu entendimento. Eu penso diferente”. Ou “Direito é assim mesmo: cada um pensa o que quer. Não é uma ciência exata”. E é exatamente aqui que a realidade se perde, dissipa-se, vai para bem longe…
Parece que o que aprendemos e o que ensinamos sobre o direito, no Brasil, encontra-se mergulhado em um universo ficcional que, talvez, dê conta de explicar os problemas jurídicos dos desafortunados Caio, Tício e Mévio – ficções, diga-se de passagem – mas que fracassam diante de uma realidade que, nitidamente, escapa desse imaginário dogmático.
É como se tivéssemos atravessado a fronteira entre a ficção e a realidade, à exemplo do que ocorre com os protagonistas de “As Crônicas de Nárnia”. Na história de C. S. Lewis, quatro crianças – Edmundo, Susana, Pedro e a pequena Lúcia – acabam descobrindo uma terra encantada, povoada por faunos, animais falantes, anões, feiticeira e etc.
Esse reino é Nárnia. O acesso a ele se dá através de um guarda-roupa (aqui, chamaremos de “armário”), que funciona como uma espécie de portal mágico. Lúcia é quem descobre a existência desse portal, escondido em um dos muitos quartos da casa em que foi morar com seus irmãos, refugiados de uma guerra em Londres.
Mais tarde, todos eles acabam entrando no armário e empreendendo uma série de aventuras na terra encantada de Nárnia. A dogmática jurídica “guarda” muito dessa realidade simbólica. À semelhança do “armário”, que conduz a um reino encantado, ela também nos joga num território de conceitos e de símbolos. O problema é que o abismo entre ficção e realidade tem se tornado cada vez maior. Como se o direito que aprendemos servisse tanto mais à Nárnia, do que propriamente, ao nosso mundo.
Que o Direito é uma experiência de sentido, já o sabemos, desde há muito, afinal ele é (na) linguagem. Mas há um problema quando insulamos sentidos em conceitos descolados das coisas, desvivificados, diluídos em uma superficialidade que nunca encontra os fundamentos, que nunca vai até as raízes, que não desce, pois, até o princípio. Como os faunos que só existem em Nárnia, somos obrigados a nos ver, às voltas, com conceitos e teorias que não “acontecem” aqui, do lado de fora.
Os manuais simplificados, embalados à vácuo (falta oxigênio aos seus conceitos) abusam da superficialidade, dos efeitos, das palavras mágicas que tornam tudo mais agradável: para ensinar excludentes de ilicitude, o manual descomplica e manda lembrar do Bruce “LEEE” [(L) egítima defesa, (E) stado de necessidade, (E) xercício regular de direito, (E) strito cumprimento de dever legal]. Pronto. Nada mais é necessário dizer sobre o tema. Bruce Lee personifica, nesse Direito Mítico, o nada que aprendemos nos manuais.
Talvez isso explique o aluno que chega com o professor, às vésperas de entregar seu projeto de TCC, e diz: “professor, você pode ME DAR um tema?”. Como se “temas”, problemas de pesquisa, hipóteses, pudessem ser DADOS! Mas, se o sujeito passou a graduação inteira se relacionando com manuais que “dão” as coisas, o que esperar?
Quando Lúcia volta de Nárnia, pela primeira vez, descobre que todo o tempo em que estivera naquele lugar não durou um segundo sequer no mundo real. Talvez por isso, o tempo da (de) mora nesse universo de conceitos atemporais, deslocados, superficiais e simplificados não nos permita avançar no tempo, aqui fora, no mundo real.
Enquanto discutimos sobre furtos de copos d’água, “naturezas jurídicas”, crimes de gêmeos xifópagos, ou ainda sobre pessoas que escorregam e caem em tonéis de vinho, a realidade (de) manda uma ordem de compreensão para muito além das simplificações.
É Warat quem lembra que as fronteiras entre o imaginário e a realidade unicamente podem ser estabelecidas por uma decisão política. Em outras palavras, somos nós quem decidimos sair do armário, no Direito. Arriscado?! Não há dúvida. Basta lembrar do que aconteceu com o fauno Thumnus, preso pela Feiticeira Branca, em Nárnia. O motivo? Ele dizia que acreditava em uma Nárnia livre…

Ana Cláudia Bastos de Pinho é Doutora em Direito (UFPA). Professora de Direito Penal (UFPA – graduação e Pós Graduação). Pesquisadora do CESIP (Centro de Estudos sobre Intervenção Penal). Promotora de Justiça.
Fernando da Silva Albuquerque é Mestrando em Direito (UFPA – linha de pesquisa “Intervenção Penal, Segurança Pública e Direitos Humanos”). Pesquisador do CESIP (Centro de Estudos sobre Intervenção Penal).

sexta-feira, 11 de julho de 2014

1 Concurso de Redação Jurídica da Faculdade ESTÁCIO/SEAMA.

Edital Liberado

Já esta liberado o  edital de abertura do 1 Concurso de Redação Jurídica da Faculdade ESTÁCIO/SEAMA.
A primeira edição deste concurso será destinada aos alunos regularmente matriculados no curso de Direito das Faculdade ESTÁCIO/SEAMA.
As inscrições começam no dia 01 de Agosto de 2014 no andar térreo da Faculdade,ao lado do Salão de Atos.
Prêmios :
1º lugar: Notebook
2 º lugar: 100% de desconto em uma mensalidade do semestre 2014.2
3º Lugar: 1 câmera fotográfica digital
Todos os alunos participantes receberão Certificado com 15 horas de atividades extra curriculares.
O edital será publicado no site do Professor Rômulo Fernandes , bem como no site da faculdade Estácio/Seama, no dia 01 de agosto de 2014
Participe !

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Feliz aniversário, Leonardo.


Hoje comemoramos 10 anos de Leonardo Mont’Alverne. Filho de Lênio, meu primogênito, e Cristiana. Leonardo é meu primeiro e único neto.

Por este breve parágrafo dá pra ter uma ideia da revolução que o nascimento de Leonardo provocou em nossa família: um bebezinho tão pequenininho, tão vulnerável e provocando uma ebulição de sentimentos tão primorosos: ternura, dedicação, cuidado, desvelo, carinho e amor, muito amor.

Hoje, um rapazinho antenado com seu tempo, é um leitor de aventuras, adora filmes de ação e é vidrado em tecnologia. Através do computador tenta desvendar os mistérios do universo. Sabe tudo sobre planetas, galáxias e estrelas. Tem sempre uma novidade a respeito do cosmo.

Andar de bicicleta e jogar futebol com os amigos são outras atividades que Leonardo se dedica com prazer.
Continue assim, meu querido, nessa busca incessante pelo conhecimento e preservando o seu lado mais encantador: a meiguice e o carinho com que trata sua irmã, seus pais, seus primos e principalmente seus avós.

Amo você Leléo, seja muito, muito feliz, hoje e sempre. 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Músicas do Grupo Pilão - Folia


FOLIA

Folclore


Ê, ê, ê, ê, elá, ê elê, elá
Já se vai o sol embora
Deixando o mundo sem luz

Ê...
Que santinha é aquela
Toda cercada de flores

Ê...
É a Virgem da Piedade
Ela é a mãe dos pescadores

Ê...
Oh! Virgem da Piedade
Me bote sua bênção

Ê...
Somos netos de Sant’Ana
Descendentes de Adão


Ê...

terça-feira, 24 de junho de 2014

Músicas do Grupo Pilão - Pedra Negra


PEDRA NEGRA
Fernando Canto


Ah! Casas de cavaco
Ah! pedras pelo chão
No rasgo-reto
Um resto de sangue
Acima um sol quente
O céu que me lambe
Quando menino, solto,
Sou do sertão

Ai vento que me leva
Diz-que o Jurupary
Está comendo pedra no norte
Está ganhando verde de morte
Leva tudo de noite daqui pra li

Ei! Lá vai o trem
No seu trilho de luta (4 vezes)
Não volta mais

E come, e come, e come
Come meu chão
E bate, e bate, e bate
De mão em mão

A terra, a serra
O barco, o navio
Tudo vai afundar
(Tudo pra se acabar)


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Músicas do Grupo Pilão - Gapuia.



GAPUIA
Eduardo Canto

Veja o sol já vem surgindo
Vem trazendo junto a maré
Luculento nas ondas do mar
Vem bailando junto ao mururé

Encontrando com essa tua lançante
Vi morrer no igarapé

– José pega o pindá
Vai pra ribanceira
Vai pescar

Mãe eu não peguei nenhum peixe, não
Não tem problema existe outra solução

Gapuia, José, gapuia
Gapuia pra pegar o camarão

O açaí já está no alguidar
Pronto pra tomar

Ou pra comer com camarão.

domingo, 15 de junho de 2014

Feliz aniversário, Amanda Mont'Alverne









Amanda, filha de meu filho Lênio e Cristiana Mont’Averne faz aniversário hoje (16/06).
Há seis anos Fernando compôs esta canção pouco antes de Amanda nascer. 
Amanda é uma criança iluminada, brincalhona, alegre... Feliz!
A cada dia que passa a canção se torna mais verdadeira... Amanda dá sentido em nossas vidas.
Felicidades, querida... Continue espalhando aromas em sua volta para que sejamos todos mais e mais abençoados.

Sônia Canto.


Vídeo do aniversário de 4 anos. By Lênio Mont'Alverne

AMANDA
Fernando Canto

Você virá
De um céu de arroz
Espalhando aromas

Você virá
Dizendo ôi
No seu idioma

E chegará
Num caracol
Vestida de sonho

Para brincar
Pra dar amor
A um mundo risonho

Quem somos nós
Para querer
Contrariar
Sua vontade

No seu jardim
Tem tanta flor
Tem tanto amor
Felicidade

Vem pra brincar
Vem pra chorar
Pra dar sentido
Em nossas vidas

Anda, Amanda, querida.



quinta-feira, 29 de maio de 2014

Feliz aniversário, meu amor.

Foto: Tadeu Canto

De repente fiquei sem palavras. Embaralhadas nos escaninhos dos desejos, dos sonhos, da magia elas adquirem vida própria e se negam a fluir.
As palavras são escorregadias e volúveis, saltam, espraiam e rodopiam quando se pretende controlá-las para redigir um parágrafo de importância infinda, como o que tento agora, neste momento. Um parágrafo cheio de palavras doces, singelas, amáveis no dia do seu aniversário, meu amor.
À falta de belas palavras digo apenas: Obrigada.

Obrigada por existir na minha vida. Feliz aniversário, meu amor. 

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Dádiva.

Alba Cavalcante da Silva, minha mãe.
Hoje minha mãe completa 91 anos de idade e não pude abraçá-la, nem pedir sua bênção. Dói. A despeito de tudo e de todos, hoje, especialmente, meu coração se enche de ternura e carinho por essa mulher que enfrentou grandes batalhas para criar e manter 12 filhos.
As atitudes que cada um desses filhos assume durante sua caminhada diz respeito a cada um e não invalida o amor e o respeito que transborda do meu coração.
Hoje agradeço pela dádiva da vida, a vida que minha mãe me proporcionou e que me permitiu parir meus quatro filhos que significam a plenitude de minha existência.
Agradeço pela bondade divina que permite que, aos 91 anos minha mãe esteja lúcida e escolha exatamente quem ela quer que fique ao seu lado. É o exercício pleno de sua vontade e isto, também, é uma dádiva.

Hoje, daqui do meu cantinho rogo a Deus e Nossa Senhora, que cubram minha mãe de luzes para que sua caminhada pela vida seja coroada de êxito.

sexta-feira, 18 de abril de 2014


Gabriel Garcia Marques foi habitar com as estrelas. Deixou uma vasta obra literária para que não nos sentíssemos órfãos. “Cem anos de solidão”, O amor nos tempos do cólera”, O general em seu labirinto”,  “Crônica de uma morte anunciada” e “Memórias de minhas putas tristes”, são alguns de seus livros que enlevam e por vezes desnorteiam, mas que envolvem tanto que, ao final, fica a certeza de que saímos fortalecidos e acrescentados de algo que absorvemos deste universo tão fantástico e nem por isso, irreal.
Dos livros que li, o meu favorito é, sem dúvida, “A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada”. Absolutamente surreal. Belo, romântico e sarcástico.  










A propósito do oitenta anos de Gabriel Garcia Marques, Fernando Canto escreveu o texto abaixo, que vale a pena reler.
(Sônia Canto)

80 ANOS DE GABRIEL
Fernando Canto (Sociólogo)

O primeiro grande clássico da literatura que li foi “Dom Quixote”, de Cervantes nas tardes de folga da minha adolescência macapaense. Era um livro enorme de uma edição ilustrada existente na Biblioteca Pública. Foi o meu primeiro contato com a literatura espanhola e a primeira história que decididamente me fez sonhar, viajar pelas estradas da imaginação.

Muitos anos depois, em 1987, recebi de presente de minha mulher o monumental “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez, autor de quem já havia lido apenas um livro de conto do qual fiquei impressionado com “A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada”, transformado depois em filme por Rui Guerra, com bela atuação de Cláudia Ohana. Entusiasmado com o livro, não cansei, até hoje, de divulgá-lo entre os amigos que gostam de literatura. E assim devorei “Relato de um Náufrago”, “O Amor nos Tempos de Cólera”, “Doze Contos Peregrinos” e mais recentemente “Memórias de Minhas Putas Tristes”, entre outras ficções e memórias desse excepcional autor colombiano.

Nascido em Aracataca, na Colômbia, no dia 6 de março de 1928, o escritor fará no ano que vem 80 anos. Mas desde terça-feira passada iniciaram-se as comemorações sobre sua vida e obra em quase todo o mundo. Márquez reside há mais de trinta anos na Cidade do México que será sede de um novo empreendimento seu: a Casa Colômbia, um centro cultural que se destina a divulgar as mais variadas manifestações artísticas de seu país. Em 2007 haverá múltiplas comemorações na vida do escritor, que por sinal odeia a televisão e espetáculos públicos: os 40 anos do lançamento de “Cem Anos de Solidão” e os 25 anos do recebimento do Prêmio Nobel. Esse livro já vendeu mais de 30 milhões de exemplares no mundo inteiro. Dele será feita uma edição especial que será lançada em Cartagena das Índias durante o Congresso Internacional de Língua Espanhola, organizado pela Real Academia Espanhola, pelo Instituto Cervantes e pelo Governo da Colômbia. Terça-feira, dia 6, na cidade natal do escritor, situada na costa do Mar do Caribe foram disparados 80 tiros de canhão. Em Madri dezenas de intelectuais, artistas, políticos e jornalistas realizaram uma maratona de leitura do seu mais famoso romance, e o Ministro da Cultura de seu país anunciou que o governo pretende restaurar a casa em que García Márquez passou sua infância em Aracataca, que se situa numa região de cultivo de bananas, onde o autor ouviu de sua avó as primeiras histórias que vieram a influenciar e moldar seus futuros romances (fonte: Revista Entre Livros e Reuters/ Patrick Markey).

Foi através escritores como Borges, Júlio Cortazar, Alejo Carpentier e Márquez que a minha geração começou a ver nas metáforas absurdas (desculpem a tautologia) formas plurais de se comunicar numa época de grande repressão da comunicação e das manifestações artísticas no Brasil. Mexicanos e latino-americanos trouxeram para o terreno da ficção elementos narrativos impressionantes, alicerçados numa temática diversificada do tradicionalismo que permeava o regionalismo do início do século XX. Eles acharam o filão de um universo ficcional inexplorado e revelaram a América em seu insuportável contexto de miséria e autoritarismo. Por darem em suas obras a conotação da denúncia através do fantástico todos foram perseguidos pelas ditaduras de seus países e exilados. A produção desses escritores foi denominada Realismo Mágico.

No Brasil temos expoentes dessa literatura, cuja maior expressão está nos trabalhos de José J. Veiga, Campos de Carvalho, Roberto Drummond e o impagável Murilo Rubião, escritores que também deram muito trabalho para os censores da ditadura militar. Então viva a literatura latino-americana! Viva Gabo! Cervantes vive!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Aprender Direito - Tradição.

O que é tradição?

Eu, que pensava que o conhecimento era cumulativo, percebo que estudar Direito é mergulhar num mundo à parte. Conceitos que até então julgava serem tácitos, não são... Por exemplo, cada vez que a palavra “tradição” aparecia em algum escrito, imediatamente o que me vinha à cabeça era algo relacionado com fazer algo da mesma maneira até que se tornasse tácito. Este conceito não está errado, pois, em grego, tradição significa, "na acepção religiosa do termo, a expressão é paradosis παραδοσις) é a transmissão de práticas ou de valores espirituais de geração em geração, o conjunto de crenças de um povo, algo que é seguido conservadoramente e com respeito através de gerações".  

Hoje percebo que para estudar Direito, direito, (veja, duas acepções da palavra completamente diversa), preciso mergulhar no estudo da origem das palavras, lembrar-me do inesquecível professor Benevides e estudar latim.
A palavra “tradição” (em latim, traditio, tradere) significa entregar. Então é isso: “tradição”, em Direito, significa entregar a coisa.

No Direito Civil, o termo "Tradição" remete à entrega, ou seja, na relação de compra e venda, por exemplo, o comprador (devedor de pagamento em espécie) ao efetuar o pagamento passa a ser credor do vendedor do produto/mercadoria/serviço pelo qual pagou, então ocorre a tradição – entrega do produto pelo qual foi negociado mediante valor previamente fixado.


terça-feira, 8 de abril de 2014

SOberba ORAção dos SERes da FLOResta parA IANEJAR, o heRÓI

Texto de Fernando Canto*

Eu te agradeço Ianejar pelo teu sangue de borboleta avoante. Por seres  a distorção da história fútil do homem branco que aqui chegou fincando sobre a terra seus valores.
Ianejar, eu te agradeço pelo fogo - o cataclismo devastador - mais que necessário para proteger teu povo do intrépido inimigo e de suas armas cuspidoras do brilho do infortúnio.
Todos os dias quando o sol se agiganta como um raivoso pai lá no horizonte, eu penso que tu estavas certo em provocar a fuga-exílio do teu povo sofredor por dentro de uma casa-argila, onde tantos faleceram de calor e de frio.
E era Mairi que flutuava pelas margens do Grande Paraná à deriva e à procura de uma terra em que houvesse paz.
Eu te agradeço, Ianejar, por conduzires com grandeza a dignidade do povo Waiãmpi na sua memória ímpar, por enormes espirais que o nosso povo representa em ciclos míticos.
Sei que foi preciso destruir uma parte da Floresta-Mãe para depois fazer a roça e ver medrar a folha verde dos campos.
E mesmo antropizada como hoje diz o karaiko /o homem branco/ a floresta é a tua dádiva. É a cornucópia do nosso cabeludo povo, dada a nós por um demônio manso que hoje deita na tua rede no teu céu, lá onde estão as borboletas e a estrela em que tu te tornaste quando saíste pelo buraco do final da Terra.

Eu te agradeço, Ianejar, eu te agradeço.

Publicado no livro Equinocio - Textuário do Meio do Munto. Ed. Paka-tatu. Belém-PA, 2004;

domingo, 23 de março de 2014

EquiNO/cio - A voz dos leitores.

eu VENHO CINTILANTE e áspero calor eqüINO sobre o mundo ARAUTO que sou de um novo tempo desde a hora em que as ONDAS do Amazonas rebentaram o alúvio das encostas na primeira MANHÃ

eu VENHO CAVALGANTE no cerrado e nos estirões inebriado com o bramIDO das cachoeiras e com o ronco dos MACAréus CavALGO sim em banzeiros caudatários de uma pororoca enorme  - estro sem fim -  sacralizando vôos vindOUROs além desta procela que se instaura incompreensível no meu tempo


passará A VEZ do ÁZIMO pão posto bruto que agora é tempo de pousio da espera da nova fertilização da terra quando deveremos ARAR novas angústias e colher o juSTO fruto e descascá-lo e cortá-lo à lâMINA afiada na curva dos varadOUROs
(Canto, Fernando. EquinoCIO, Textuário do Meio do Mundo. Ed. Paka-Tatu. Belém-PA. 2004.)

___________________

Cyssah04/03/2014

Um EnCanto
VIAGEM PELO BRASIL EM 54 LIVROS
13/54


"equino CIO" de Fernando Canto foi publicado pela editora Paka-Tatu em 2004.

O livro possui 56 textos curtos escritos em prosa que tanto canta a cultura e as belezas amapaenses quanto conta casos da população da região amazônica. Alguns textos são bem engraçados, outros românticos e há ainda aqueles que te fazem pensar na forma como agimos como em "disCURSO DE aniVERsário" que fala sobre como nosso vocabulário é mal influenciado pela TV Brasileira. O mais interessante sobre os textos e que são escritos com letras de tamanhos diferente que lhe permitem ler uma palavra dentro da outra saber os temas que serão tratados com em " a palavrA MORte" que fala tanto de morte quanto de amor. O livro também possui belas ilustrações.

Rogério30/01/2014

Essa obra é recheada de crônicas, poesia e relatos que mostram faces do povo equinocial. O autor passeia pela literatura fantástica, com símbolos e devaneios, ou aplica-se a simples descrição de memórias, causos, fatos ocorridos ou ainda corriqueiros. Histórias paridas e embaladas no meio do mundo, sob o sol do equinócio. Uma identidade apresentada nas impressões do poeta.

Comentários disponíveis em 

quinta-feira, 6 de março de 2014

Catarse

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Ontem (05/03) vivi uma bela emoção. Comemorei com a Nação Negra a vitória da Universidade Boêmios do Laguinho no carnaval de 2014.

É belo observar as mais diferentes manifestações de júbilo, felicidade, comoção, explosão de sentimentos entre risos e lágrimas que uma decisão provoca.

O Carnaval, como poucas manifestações culturais possibilita essa descarga exacerbada de emoções por vezes conflitantes: o riso e as lágrimas. O riso gargalhado é a constatação da vitória e a alegria de que o trabalho empreendido foi profícuo; já as lágrimas incontidas são a digressão, como um filme rebobinando, onde se relembra cada dificuldade ultrapassada, cada correção de rumo no planejamento, cada ego inflamado que precisou ser massageado, cada paetê ou lantejoula que precisou ser rebordada, cada passo que precisou ser ajustado.

É a catarse em sua mais pura expressão como já ensinava Aristóteles, a "purificação" experimentada pelos espectadores, durante e após uma representação dramática.

Boêmios do Laguinho vem, há muitos anos, empreendendo um trabalho de conscientização de sua comunidade, reverenciando seus ancestrais e prestigiando seus integrantes, buscando elevar a autoestima de um povo que tem em sua história episódios de luta e determinação para construir seu espaço físico e cultural, e hoje, culminou com a vitória não de sua diretoria, mas de todas as pessoas (da Comissão de Frente aos empurradores dos carros alegóricos) que, ombro a ombro, desfilaram na passarela do samba de forma compacta, leve e radiante para comemorar os seus 60 anos de fundação.

Entreouvi em uma conversa na concentração no Sambódromo, antes de Boêmios passar: “Boêmios vai ganhar porque quem sai no Boêmios, ama o carnaval e ama o Laguinho. Me diz aí: Que outro bairro tem hino? Só o Laguinho”. E isso é verdade, o hino do Laguinho está em todos os seus sambas enredos: Sou Laguinho, sou Boêmios, sou paixão.

A felicidade que me assalta tem um nome: pertença. Um sentimento de fazer parte, uma sensação de que na Nação Negra o sobrenome é emoção, basta amar a Universidade e fazer o que lhe cabe para que ela possa brilhar.

Parabéns, Boêmios! Parabéns, Nação Negra! Parabéns Laguinho!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

TAMO JUNTO! TAMO JUNTO! TAMO JUNTO!


Amanhã (01/03) a Universidade Boêmios do Laguinho vai passar na Ivaldo Veras, e não vou estar lá compondo a imensa comunidade laguinhense que certamente levantará bandeiras, pavilhões, fogos de artifício, samba enredo na ponta da língua para homenagear essa escola que completa 60 anos de Carnaval e é mais que uma Escola de Samba, é um ícone de amor e paixão.
Daqui do meu cantinho quero enviar muitas luzes, para que se traduzam em garra, força e o desejo sincero de que a minha comunidade faça o que sabe fazer de melhor, mostrar a garganta afinada e o samba no pé.
Aqui está a íntegra do samba enredo deste ano e passeio por versos retirados dos muitos carnavais com os quais Boêmios do Laguinho mostrou aos amapaenses o amor de sua comunidade e com eles se transformou na maior agremiação carnavalesca da Amazônia.

É BOEMIA, AMOR!!
Autores: Claudinho, Júnior Fionda, Lequinho da
Mangueira, Vicente Cruz, Adriano Ganso e Igor Leal

Malandragem, boemia, sou Negra Nação
Sessenta anos no seu coração
Receba meus versos com amor e carinho            BIS
Sou Boêmios do Laguinho

Tenho a ginga no andar
Meu sobrenome é sedução
Tenho a lua como par
Nasci dentro de um bar
Sou Laguinho, sou paixão.
Vou construindo o meu lugar
A cada passo desse chão
E pouco a pouco me tornei uma Nação
Negra na cor da pele sangue e suor
Trago amor e esperança
Pra ver nascer um mundo melhor

Meu carnaval é a magia está no ar
Meu pavilhão vai te conquistar                                 BIS
Vem recordar a alegria
A cobra vai fumar

Voou pelas asas da imaginação
Voou desfilando na imensidão
O meu Guará, vai despontar.
É nova era, desperta meu povo e vem desfilar
Hoje, a fibra da mulher.
Conduz os meus passos, com garra e fé.
Erguendo a bandeira de Lino e Bené
E tantos que fizeram tradição
Bato no peito chegou a hora de gritar é campeão

Lindo Grão Pará.
Na avenida lágrimas vão derramar quando meu Laguinho desfilar
Que alegria, que emoção a Nação Negra é minha paixão.

Maravilhosa Macapá
Abençoa a minha joia, joia minha Macapá
Neste equinócio fascinante me transformo num gigante
A Nação Negra está feliz, esta é minha raiz

Entre aromas de açucena
Vem me banhar minha Nação
Cheiro da mata
Roda Mulata de Cheiro
Me leva em teu canteiro
Que eu quero pegar galho de arruda
Pra espantar o mau-olhado
Patchulí dobrado para perfumar

Fortaleza, o atalaia da Amazônia
E hoje vamos mostrar toda a tua beleza
Encantos e riquezas nesta festa popular
E através da nossa batuca os Boêmios vem canta.

Laguinho, Bairro do samba e do amor
Laguinho... É lá que mora o samba.
Laguinho, bairro do samba e do amor.

Francisco Lino, o Menestrel da Nação Negra
Hoje o Laguinho faz a festa
Nação Negra me encanta.

Deixa de bafo
Malandro, respeita a Universidade
Tira logo o teu chapéu.

Laguinho Bairro de Tradição
Laguinho, moras no meu coração
A inveja dessa gente que não sabe o que faz.

João Falconeri
Eu vou pro Laguinho é nossa matriz
Não sou eu quem falo é o povo quem diz

Que fim levou nossas pedras
A Nação Negra desce o Laguinho cantando em coro
Veste a fantasia e quer saber onde é que está o ouro.

África Minha
Laguinhar é preciso, Fernando diz
No meio do mundo eu sou feliz
Bôemios traz em rima o violão.

Pernambucália
Nessa avenida de felicidade uma overdose de amor e paixão.
Menino do Laguinho eu sou, de vermelho e branco neste carnaval
Canta meu Laguinho e faz o meio do mundo tremer.

O despertar de uma nação
Acorda Laguinho, amor, respira esse novo ar
Levanta minha escola querida, é hora de encantar.

Paulinho Ramos
Vem morena, rosa branca cheirando a açucena
Tua pele inspirou o canto da pele morena
E hoje a nação negra
Vem com um poema em forma de canção.

Brasil ou França, o dilema da anexação.
O surdo faz bum bum o molejo da mulata
Marca passo a passo nessa linda passeata
Repique repinica ao som do tamborim
Que junto com a cuíca vamos cantar assim
Eu vou, eu vou, eu vou sambar nesta avenida
Vestir vermelho e branco da escola mais querida

Boemios, 49 carnavais
Sonhei com pérolas e o cintilante se faz branco
O vermelho teve um caso de amor
Boêmios eu te amo minha flor

Mundo encantado da criança
Um colorido alvirrubro sem igual
Anunciando o Carnaval
A criançada delirando
Quando a universidade passou

Este maravilhoso mundo louco de ilusões
O Boêmios do Laguinho faz a festa
O orvalho beijando a seresta
Este mundo é um jogo tão difícil de acertar
Na ilusão do carnaval vamos todos festejar.

Mar acima, mar abaixo, de ladrão em ladrão, a saga de uma nação
Nação Negra me deixa em tua saga delirar
Sobe a gengibirra, roda a saia
Tirando ladrão, pode contar, que o preto “espaia”.

Que seja verde enquanto dure
Eu vou pedir este ano
Para colorir o verde da natureza em vermelho e branco.

Contos e povos da floresta na era do @.com
Rufam os tambores, explode de alegria
Canta Laguinho

Ninguém segura a nossa bateria